Geral
Números indicam escalada da violência na faixa de fronteira
Em todo o ano passado, 244 homicídios dolosos foram registrados na divisa entre as cidades de MS com o Paraguai; em 2022, já são 64 mortes na região
CORREIO DO ESTADO / MARIANA MOREIRA, VALESCA CONSOLARO
A região de fronteira entre o Brasil e o Paraguai, rota das grandes apreensões de drogas, conta agora com um novo elemento, a violência explícita praticada por pistoleiros em conflitos pelo domínio do tráfico de entorpecentes na região.
Conforme balanço da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), de janeiro a março deste ano, 64 pessoas perderam a vida em conflitos na divisa dos dois países, um aumento de 28% em relação aos 50 homicídios registrados no primeiro trimestre de 2021.
Em todo o ano passado, 244 homicídios dolosos (quando há a intenção de matar) foram registrados na faixa entre as cidades de Mato Grosso do Sul que fazem fronteira com o Paraguai. Em 2020, 231 pessoas perderam a vida na região de conflito.
A chacina mais recente envolvendo a morte de quatro homens ocorreu nesta terça-feira em Ponta Porã, a 320 km de Campo Grande. Testemunhas da ação criminosa informaram que os suspeitos chegaram no salão de eventos, localizado na Avenida Belmiro de Albuquerque, por volta das 21h35min, portando roupas camufladas, com o intuito de se passarem por policiais paraguaios.
Durante a ação, os pistoleiros separaram cinco pessoas do grande grupo, pedindo que estes fossem para a outra extremidade do local. Quando Geovani Souza da Silva, 29 anos, Josimar Cáceres de Oliveira, 31, Venâncio Cabreira, 39, Luiz Vareiro, 27, e Salim Habib, 28, distanciaram-se, foram alvejados por disparos. Os quatro primeiros morreram no local.
Salim Habib foi encaminhado para a unidade de saúde e, até o momento, não há informações sobre seu estado de saúde. Segundo uma testemunha, logo após dispararem contra os alvos, os atiradores ainda fizeram buscas no carro de uma das vítimas.
Na manhã de ontem, a caminhonete usada pelos atiradores, uma Volkswagen Amarok branca, foi encontrada incendiada próximo ao rodoanel de Ponta Porã.
Dados da Sejusp apontam ainda que de 1º de janeiro a 31 de março de 2022 foram registradas cinco mortes violentas classificadas como homicídios em Ponta Porã. Durante todo o ano de 2021, ocorreram 51 mortes violentas, um aumento de 21,4% em relação as 42 execuções registadas na região em 2020.
Ao Correio do Estado, o prefeito de Ponta Porã, Hélio Peluffo (PSDB), salientou que a chacina desta semana foi um caso isolado de violência.
“Os índices de violência no Paraguai não refletem em Ponta Porã. Este caso desta semana é pontual, e, provavelmente, reflexo de algum conflito deflagrado em Pedro Juan', disse.
FAIXA DE FRONTEIRA
Em destaque negativo, a cidade de Coronel Sapucaia lidera o ranking de mortes na faixa de fronteira em MS com o Paraguai. Apenas nos primeiros três meses deste ano, sete pessoas foram assassinadas na região. Em todo o ano de 2021, oito pessoas foram assassinadas na cidade.
Em Sete Quedas, cidade que faz fronteira com Corpus Christi, no Paraguai, duas execuções foram registradas neste ano, uma a mais que no mesmo período do ano passado.
Em Porto Murtinho, também houve aumento na violência, com uma morte registrada no primeiro trimestre de 2022. Em todo o ano passado, a cidade que faz fronteira com o Paraguai registrou três mortes.
O município de Bela Vista já contabiliza três execuções de janeiro a março deste ano na faixa de fronteira com a cidade paraguaia Bela Vista do Norte.
No decorrer de todo o ano passado, sete pessoas perderam a vida em conflitos na região.
As cidades sul-mato-grossenses Naviraí, Mundo Novo, Japorã, Antônio João e Amambai registraram uma morte cada nos primeiros três meses deste ano.
Em Aral Moreira, duas pessoas foram executadas na fronteira com o Paraguai neste ano. Em 2021, foram três mortes registradas. (Colaborou Patrícia Dapper)
Investigações
Forças policiais do Brasil e do Paraguai estão mobilizadas para encontrar o grupo de pistoleiros que executou os quatro homens na noite de terça-feira.
As investigações contam com o apoio da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Fronteira (Defron) e de agentes da Polícia Nacional do país vizinho.