Coluna do PVC: a previsão do imprevisível

A capacidade de gerar surpresas ainda é a graça do Campeonato Brasileiro

CORREIO DO ESTADO / PAULO VINíCIUS COELHO - PVC


O Campeonato Brasileiro começa neste sábado (9) e tem o Palmeiras como principal candidato ao título. No dicionário, favorito não é sinônimo de vencedor. O bicampeão da Libertadores pratica o jogo mais sólido do país. Por outro lado, terá uma série de cascas de banana no caminho.

Um deles é o fato de ter se preparado para atingir o ápice no Mundial de Clubes. Fisicamente, isso trará consequências no meio do ano. Outro, enfrentar Flamengo e Corinthians nas quatro primeiras rodadas.

Abel Ferreira já alertou para este risco, e o departamento científico, comandado por Daniel Gonçalves, trabalha para atenuar os danos.

Os rivais óbvios são o Atlético e o Flamengo. O torneio nunca foi um triangular. O Galo está um degrau abaixo do ano passado, e o rubro-negro tem problemas internos.

Paulo Sousa não seduz os jogadores, o presidente e o vice de futebol convivem ou flertam com cargos públicos, a torcida pede reuniões com o elenco. O Flamengo não está jogando bem.

Mesmo assim, o triangular dos ricos tem potencial para acontecer nos próximos seis meses, e a chance de ser diferente é a temporada se tornar um enduro de resistência.

A final da Copa do Brasil será no dia 19, e a da Libertadores no dia 29, ambas em outubro. O Brasileiro termina no dia 13 de novembro, uma semana antes da Copa. Em 206 dias, Atlético, Flamengo e Palmeiras poderão ter de disputar 60 jogos, se não forem eliminados de nenhuma competição.

E, se forem, crise!

Não é tão simples encontrar um quarto pretendente ao troféu. O São Paulo, talvez. Mesmo no Morumbi, há quem pense ser um exagero incluir a equipe na lista dos postulantes. Rogério priorizará o Brasileiro, não a Copa Sul-Americana.

Ceni tem muito menos jogadores para rodar no elenco do que seus primos ricos. Se houver proposta por seus jovens jogadores, o São Paulo venderá. Mas existe a hipótese de abrir mão das outras disputas, se os primeiros resultados levarem à parte de cima da tabela.

O Corinthians e o Bragantino são intrusos possíveis. A Red Bull ainda não deu as peças de reposição suficientes, mas já chamou a atenção de concorrentes a ponto de contratar o zagueiro Renan e o lateral Ramon, de Palmeiras e Flamengo, por empréstimo e sem cláusula de compras definidas. A empresa considera que seu time será candidato ao título daqui a dois anos.

No Corinthians, a dificuldade é Vítor Pereira perceber que não pode escalar sete veteranos todas as quartas e domingos e encontrar substitutos suficientemente bons para Fagner, Renato Augusto, Paulinho e Willian.

Se Du Queiroz como lateral, Maycon como volante e Adson na ponta esquerda deslancharem, o Corinthians poderá ficar mais forte. Improvável.

É mais fácil acertar o prognóstico dizendo que o campeão será o Palmeiras, o Atlético ou o Flamengo.

O orgulho de ter 12 candidatos ao título sempre foi falso. Até mesmo na década de 1980, havia três ou quatro postulantes, de fato. Palmeiras, Santos, Botafogo e Cruzeiro não tinham chance de ganhar o Brasileiro de 1982, há 40 anos. Seria Flamengo, São Paulo ou Atlético, bases da seleção para a Copa do Mundo. O Corinthians surpreendeu e chegou às semifinais. Quem venceu? O Flamengo!

O patrimônio do Brasileiro não é a quantidade de candidatos ao título. É a mobilidade social. O Grêmio brigou pela taça há cinco anos e hoje está na Série B.

A capacidade de gerar surpresas, de ser imprevisível, ainda é a graça do campeonato que se inicia neste fim de semana.

Assine o Correio do Estado