Sanesul ignora PPP e investe milhões em redes de esgoto

Estatal está destinando R$ 17,5 milhões para Dourados, cidade que deveria ter recebido R$ 43 milhões de empresa privada em 4 anos, segundo o Sindágua

CORREIO DO ESTADO / NERI KASPARY


Previsão é de as obras dos quase 44 quilômetros de redes de esgoto em Dourados sejam concluídas em dois anos

Apesar da existência de uma Parceria Público Privada prevendo que empresa Ambiental MS Pantanal deveria investir R$ 43 milhões na ampliação das redes de coleta e sistema de tratamento de esgoto de Dourados nos últimos quatro anos, a estatal Sanesul anunciou somente neste mês investimentos de R$ 17.517.500,00 na ampliação das redes de coleta de esgoto na cidade.

“Na época que foi firmada a PPP, em maio de 2021, o argumento era de que o Estado não tinha dinheiro para fazer investimentos e por isso era necessário contratar uma empresa privada. Por isso, entendo que é uma vergonha esses investimentos da Sanesul agora”, reclama Lázado de Godoy Neto, presidente do sindicato dos trabalhadores do setor, o Sindágua. 

Com estes recursos serão construídos quase 44 quilômetros de redes de coleta e atendidas, segundo a Sanesul, 2.981 residências ou estabelecimentos comerciais. Os recursos, que serão divididos entre duas empreiteiras, são procedentes de financiamentos da Caixa Econômica Federal. 

“Até agora a empresa privada não investiu nada em coleta de esgoto na cidade e com estes investimentos públicos a cobertura de esgoto vai passar de 90%, sendo que a PPP previa que o prazo máximo para chegar a este percentual seria em 2033”, informa o presidente do Sindágua. 

No final de dezembro, segundo dados oficiais da Sanesul, existiam 85.547 imóveis com ligação de água em Dourados. Destes, 77.464 estavam conectados à rede de coleta de esgoto, o que equivale a 86,5% do total, conforme Lázaro de Godoy. 

Agora, com quase 3 mil novas ligações, o número de imóveis passará de 80 mil, o que representa em torno de 92% do total. “Sendo assim, a MS Pantanal não precisará investir nada na maior cidade onde opera no Estado e mesmo assim garante o direito a receber pela coleta e tratamento”, afirma Lázaro. 

Em dezembro, a Sanesul arrecadou R$ 8,7 milhões relativos aos 1,122 milhão de metros cúbicos de água e outros R$ 3,9 milhões com o tratamento de 980,4 mil metros cúbicos de esgoto. Parte destes recursos foi repassada à Ambiental MS Pantanal, responsável pelo tratamento do esgoto. 

Ela é remunera com base no volume de água que é distribuído nas 68 cidades do interior de Mato Grosso do Sul nas quais opera desde maio de 2021. E, além dos R$ 43 milhões que deveria ter investido em redes de coleta em Dourados, a empresa privada também deveria ter investido R$ 36 milhões na operação do sistema, o que também não ocorreu, segundo Lázaro de Godoy. 

PAC

Os recursos que a Sanesul está usando agora são decorrentes de um empréstimo de R$ 31,7 milhões obtido na Caixa ainda em 2014, na terceira etapa do PAC. Daquele valor, de acordo com Lázaro de Godoy, apenas R$ 4,6 milhões haviam sido utilizados. Parte da outra parcela, de R$ 17,5 milhões, está sendo usada agora.

“Por mais que seja elogiável o fato de haver investimentos em saneamento básico, o problema é que estão endividando a estatal e quem vai pagar a conta é o contribuinte de Mato Grosso do Sul. Se tinha dinheiro, por que fez a PPP?”, pergunta o sindicalita. 

De acordo com ele, Dourados nem mesmo deveria ter sido incluída na PPP, pois já estava com recursos garantidos para atingir a meta de 90% de cobertura de rede de esgoto. “Acredito que incluíram a cidade para que o negócio ficasse mais atrativo para a empresa privada”, afirma. 

AS OBRAS

As ordens de serviço para execução das obras foram assinadas no dia 1º de abril pelo diretor-presidente da Sanesul, Renato Marcílio, que destacou a importância dos investimentos para o desenvolvimento urbano e a saúde pública.

“Estamos ampliando significativamente a nossa rede de esgoto em Dourados, com a missão de assegurar qualidade de vida para a população e proteger o meio ambiente. Esses investimentos refletem o planejamento estratégico do governador Eduardo Riedel, que estabeleceu como prioridade a antecipação da meta de universalização em dois anos, à frente do prazo fixado pelo novo marco legal do saneamento”, afirmou.

A primeira ordem de serviço contempla a aplicação de R$ 10.475.000,00 para a implantação de 26.492 metros de rede de esgoto e 1.864 novas ligações domiciliares em bairros importantes como Estrela Verá, Morada do Sol, Nações, Clímax e Cachoeirinha.

Já a segunda frente de obras, no valor de R$ 7.042.500,00, será voltada para a ampliação da rede coletora de esgoto e novas ligações na área da Bacia da Estação Elevatória de Esgoto Bruto (EEEB) Estrela Verá, prevendo a execução de 17.424,53 metros de rede e 1.117 novas ligações domiciliares.

De acordo com o contrato, as empreiteiras responsáveis terão 24 meses para a conclusão das obras. 

A reportagem do Correio do Estado procurou a Sanesul e a MS Pantantal em busca de explicações para o investimento estatal em uma cidade onde a empresa privada deveria fazer os investimentos, mas até a publicação da reportagem não havia obtido retorno.