Economia

Copom: taxa básica de juros deve aumentar novamente na próxima reunião

Ata de reunião da semana passada foi divulgada hoje

LUCIANO NASCIMENTO


© Marcello Casal JrAgência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central disse que o conflito entre Rússia e Ucrânia e o choque de oferta de preços de commodities (produtos primários, com cotação internacional) levam ao aumento da incerteza em torno do cenário econômico mundial, com 'potencial de exacerbar as pressões inflacionárias'. O comitê indicou, em ata da reunião realizada na semana passada e divulgada hoje (22), que deve aumentar novamente a taxa básica de juros, a Selic, em um ponto percentual no próximo encontro, no início de maio.

Na última quarta-feira (16), o Copom decidiu, por unanimidade, elevar em 1 ponto percentual a Selic, que agora está em 11,75% ao ano. Na avaliação do comitê, o conflito entre Rússia e Ucrânia resultou em 'novo impulso' nas cadeias de produção globais, com as sanções impostas à Rússia, podendo levar a 'pressões inflacionárias mais prolongadas' na produção de bens.

'A reorganização das cadeias de globais, com a criação de redundâncias na produção, no suprimento de insumos e mudança no tratamento dos estoques de bens (no sentido de se deter maiores estoques), ganhou novo impulso com o conflito na Europa e as sanções aplicadas à Rússia', diz a ata. 

O comitê disse ainda que a inflação ao consumidor segue elevada, 'com alta disseminada entre vários componentes, e mais persistente que o antecipado'. Ressaltou que as diferentes medidas  mostram que a inflação deve permanecer 'acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta', que é de 3,5%,  com variação de 1,5 ponto percentual.

'A alta nos preços dos bens industriais não arrefeceu e deve persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou ainda mais. As leituras recentes vieram acima do esperado, e a surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis quanto nos mais associados à inflação subjacente', diz o Copom.

Na visão do comitê, o cenário “recomenda que a política monetária reaja aos impactos secundários desse tipo de choque'. Com isso, o Copom também passou a trabalhar com cenário alternativo, no qual o barril de petróleo passe a custar US$ 121 no fim de 2023, valor bem acima das projeções de mercado.

'O comitê observou que o atual ambiente de incerteza e volatilidade elevadas demanda serenidade para a avaliação dos impactos de longo prazo do atual choque e, portanto, optou por comparar essa hipótese com os preços de contratos futuros de petróleo, negociados em bolsas internacionais, e com projeções de agências do setor'.

Com base nesse cenário, o Copom informou que optou por trajetória de juros mais tempestiva e que essa preferência expressa cautela em relação às probabilidades atribuídas aos cenários levantados, a mensuração dos efeitos de segunda ordem, bem como seu comprometimento com a convergência da inflação e das expectativas para as metas de inflação no horizonte relevante.

O comitê reconheceu, entretanto, que o cenário é 'desafiador para a convergência da inflação às suas metas' e disse que estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário, caso o cenário evolua desfavoravelmente.

'Com base nesses resultados, os membros do Copom debateram a estratégia mais apropriada. Concluiu-se que um novo ajuste de 1 ponto percentual, seguido de ajuste adicional de mesma magnitude, é a estratégia mais adequada para atingir aperto monetário suficiente e garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos', diz a ata.

Edição: Graça Adjuto