Mato Grosso do sul
Ser surdo: estrangeiro no próprio país
Aqui no Brasil, a Língua Brasileira de Sinais foi sancionada e reconhecida em 24 de abril de 2002
CORREIO DO ESTADO / DA REDAçãO
Fabiane Esperança Rocha - Psicóloga, ativista e defensora dos deficientes
Escolhi este título para o meu artigo porque, no momento, estou me focando mais neste para aprender e entender melhor a surdez e a deficiência auditiva, que são completamente distintas, sendo um tema muito amplo, no qual terei que ser sucinta, mas vou procurar passar o meu conhecimento de uma forma que o público também possa aprender e entender.
Ao fazer o curso de Libras, aprendi que nossas mãos são abençoadas e podem salvar a vida de um paciente ou até de um aluno, por exemplo, aqueles que precisam de socorro, e às vezes ocorrem mal-entendidos que podem não ter fins felizes, por serem mal interpretados, então, por isso, o título “Ser Surdo:
Estrangeiro no Próprio País'. E, como sou ativista e defensora, achei fundamental compartilhar minha experiência com vocês.
Antigamente, os surdos eram tidos como inaptos a progredir e se realizar, eram impedidos de usar sinais para transmitir suas ideias e desejos e, quando os usavam, suas mãos eram atadas, não tinham direitos garantidos por lei e, por serem analfabetos, não recebiam heranças e não podiam assistir a missas e batizados.
Sua história começa silenciosa e infeliz, tendo início o conjunto de sujeitos que provocam um certo espanto e desprezo, de maneira que se revelam a maneira e a dificuldade que o homem apresenta ao aceitar o diferente, o deficiente, o feio e o imperfeito.
A educação de surdos teve origem em meados do século 16, a partir do trabalho elaborado pelo monge Benedito Pedro Ponce de Léon, que fundou a primeira escola para surdos em Valladolid, onde educou dois surdos, Francisco e Pedro de Velasco, membros de uma importante família de espanhóis que tinha quatro filhos surdos.
Seu trabalho foi reconhecido por enfatizar o ensino da fala aos surdos, e, no decorrer do tempo, os professores da época perceberam que os surdos tinham capacidade de aprender e de se comunicar por meio da fala e dos sinais.
Na Espanha, estudiosos desenvolveram estudos sobre educação dos surdos em que a maioria dava importância aos ambientes em que a família podia aprender com a pessoa surda.
Os sinais começaram a ganhar espaço na França, no século 18, por meio de dois professores de surdos, abade Charles Michel de L’Epée e Gallaudet, que foram persistentes defensores dos sinais.
Foi nesse momento que o sinal começou a ter uma maior importância, e daí surgiu a primeira escola para surdos, em 1760, fundada pelo abade L’Epée, o Instituto de Paris , no qual eram usados sinais metódicos (francês sinalizado). Aqui no Brasil, a Língua Brasileira de Sinais foi sancionada e reconhecida em 24 de abril de 2002.
Para a Federação Nacional de Surdos (Feneis), a terminologia surdo-mudo é a mais antiga e indigna expressão atribuída ao surdo, infelizmente, ainda utilizada em algumas áreas e divulgada na mídia.
A surdez e a deficiência auditiva são distintas, porque, na realidade, uma pessoa ser surda não sugere que ela é muda. Tanto que existe a possibilidade de o surdo falar por meio da terapia da fala, esses surdos são denominados de “surdos oralizados', e também é possível um surdo nunca ter falado por falta de estímulos.
Para a Feneis, o surdo é o sujeito que não tem audição funcional para sons e ruídos ambientais, apresentando altos graus de perda auditiva, impedindo a aquisição da linguagem.
Existem três tipos de perdas, que são: condutiva, quando a perda se deve a um dano físico no ouvido externo ou médio, costuma ocorrer após a fratura do estribo, um dos três ossinhos do ouvido médio que transmite o som, e pode ser tratada com medicamentos ou cirurgias; temos a perda do senso neural, que acontece quando o som é passado do ouvido externo para o médio, mas o interno ou o nervo auditivo não transmite o som normalmente ao cérebro; e, enfim, a perda mista, que inclui componentes tanto condutivos quanto sensoneurais e pode ser classificada de acordo com o grau de gravidade – leve, moderada e profunda.
A mudez é uma deficiência que indica inaptidão total ou parcial de produzir fala e suas principais causas são referentes à garganta, às cordas vocais, à língua, à boca e aos pulmões. Uma pessoa pode nascer muda ou apresentar mutismo futuramente por conta de algum acidente ou exposição a produtos químicos.
E quanto à deficiência auditiva, ou, ainda, hipoacusia ou surdez, é definida como sendo a perda parcial ou total de audição, e esta pode ser provocada por fatores genéticos ou hereditários, envelhecimento, exposição a ruído, infecções e agentes otológicos.
Por isso ,devemos usar a nossa empatia e compreender as dificuldades pelas quais a pessoa surda ou as com deficiência auditiva passam, é realmente ser um estrangeiro no próprio país. E, lembrem-se, as mãos salvam vidas.